segunda-feira, 30 de junho de 2008

Entrevista - Francisco Mota

Um grupo de alunos do IPCB, fez um trabalho sobre "Jovens no Associativismo".
Visitaram o Oriental de São Martinho e falaram com o Vice-Presidente da Direcção, Francisco Mota.

Numa tentativa de descobrirmos a importância do Associativismo nos Jovens, fomos ao Centro Cultural e Desportivo Oriental de São Martinho, uma das mais emblemáticas e interessantes Colectividades da Cidade da Covilhã, conhecer um jovem que há muitos anos “dá cartas” nestas andanças.
Francisco Mota, 30 anos, natural da Covilhã, Vice-Presidente da Direcção do Oriental e Coordenador da Secção Cultural, é o que se pode chamar uma “força da natureza”.
Enérgico, culto, inteligente, transborda simpatia e um amor desmesurado pelo seu Oriental de São Martinho.
Apaixonado por Teatro, Cinema, Música, devora livros, especialmente se forem de poesia, mais concretamente de Sophia de Mello Breyner Andresen ou Fernando Pessoa.
Vamos conhecê-lo.

Em primeiro lugar, queremos agradecer-lhe por nos ter recebido nesta bonita Colectividade e em dar-nos a sua perspectiva de Associativismo, bem como da sua importância para os Jovens.
Como é que tudo começou?

Deixem-me primeiramente, agradecer a vossa presença e dizer-vos que é uma honra para o Oriental de São Martinho, poder recebê-los.
Eu desde sempre convivi com o Associativismo. O meu Pai foi dirigente da Banda da Covilhã durante muitos anos, o que me levou desde cedo, a estar próximo desta realidade.
Acompanhava-o muitas vezes e integrei alguns grupos daquela instituição, como foi o caso do Rancho Folclórico Infantil. Para seu desgosto nunca fui músico (risos).
Depois ficava fascinado com todas as vivências que estão na génese do Associativismo. Aprendi que partilhar é a forma mais humana e digna, de sermos úteis uns para os outros.

E como aparece o Oriental de São Martinho, já que nunca residiu nesta freguesia?

Pois é, nunca residi em S. Martinho. Sempre vivi no Rodrigo, freguesia da Conceição, e o mais engraçado é que tenho duas Colectividades à porta de casa e nunca as frequentei. É mesmo o destino (risos).
O meu Pai faleceu em 1990, eu tinha 12 anos, foi trágico.
Deixei de estar próximo do Associativismo, mas passados dois anos (1992), convidaram-me para participar na Marcha Popular do Oriental. Faltavam rapazes e uma amiga minha lançou-me o repto. Aceitei e em boa hora o fiz. Fui extremamente bem acolhido e senti-me abraçado por uma nova família.
Iniciei então o meu caminho nesta Colectividade. As marchas trouxeram-me outras iniciativas, e aos 19 anos entrava para Secretário da Direcção.

O que mais o cativou no Oriental de São Martinho?

Tudo! Fiquei fascinado com este Clube. A história, as pessoas, a forma de estar no mundo Associativo. Depois, há toda a dinâmica envolvente do Oriental, que nos permite desenvolver ideias e projectos.
Este é um Clube que nos motiva e que nos exige muito. E eu gosto destes desafios.

Fala-se muito no afastamento dos Jovens da vida Associativa. Concorda?

Depende. As Associações têm que ir cada vez mais, ao encontro das necessidades dos Jovens. Saber ouvi-los e motivá-los é extremamente importante. Proporcionar-lhes meios de se realizarem na sociedade que os acolhe, é também um trabalho das Colectividades.
Muitos dos saberes, adquirem-se no dia-a-dia destas Instituições. O “caminho faz-se caminhando”, e é também nos Clubes que são aprendidos passos importantíssimos na construção do Ser Humano. Para isso, contam obviamente, as Actividades Recreativas, Desportivas e/ou Culturais e a dinâmica empregue em cada uma delas.

Participar no Associativismo é um dos maiores actos cívicos?

Sem dúvida. Tal como já referi anteriormente, considero que a construção de melhores sociedades, passa pelo trabalho Associativo.

Fale-nos do seu trabalho no Oriental de São Martinho. Também fizemos algumas pesquisas e falámos com sócios desta Colectividade.

(risos) Comecei nas Marchas Populares, como simples figurante. Depois fiquei completamente apaixonado por esta actividade e em 1997 estava na Comissão organizadora. Devido à saída do ensaiador da Marcha, em 1998 assumi a Coordenação Geral.
Idealizava os temas, escrevia as letras, elaborava as coreografias e desenhava os figurinos.

Sempre com muito sucesso. Até o baptizaram como o “Mourinho das Marchas da Covilhã”.

(risos) Isso do “Mourinho das Marchas” foi uma brincadeira.

Mas tem um palmarés único.

Consegui alcançar três primeiros lugares consecutivos (2004, 2005 e 2006), além de quatro prémios para o melhor traje, no escalão Adulto (2001, 2002, 2005 e 2006).
No escalão Júnior obtive um primeiro lugar (1999) e um prémio para o melhor traje (2000).
Além disso, como simples marchante, ainda fiz parte das marchas do Oriental que obtiveram dois primeiros lugares (1994 e 1995), e dois prémios para o melhor traje (1993 e 1995).
Tudo o que consegui foi com a ajuda de uma grande equipa. Sem eles, nada teria sido possível.
Pertenço também ao “Trovas ao Luar” – Grupo de Cantares Populares do Oriental, que tem feito um trabalho notável na preservação da Música Tradicional ao longo de 10 anos, e tem actuado um pouco por todo o País, incluindo os Açores, onde estivemos em 2004. Além disso, criei um Grupo de Teatro, que apresentará a sua primeira peça no final deste ano.
Tenho imensos projectos que gostava de desenvolver. Espero ter tempo para o fazer.

Aos 12 anos obteve uma Menção Honrosa, num concurso literário da Editorial Caminho. Prepara-se para lançar o primeiro livro. Como é que consegue ter tanto sucesso?

Trabalhando muito. Sou rigoroso e perfeccionista. Não deixo nada ao acaso.
Quanto ao meu livro, ainda está a ser trabalhado. Será uma compilação de alguns poemas, que fui escrevendo ao longo dos últimos anos

E o Musical “Contrastes”?

É mais um grande projecto do Oriental de São Martinho. Um sonho de há anos, que espero ver concretizado.
Apresentámos este espectáculo à Comunicação Social no início de Maio. Envolve cerca de 50 jovens em cena, e no total serão perto de 100 pessoas a abraçar esta iniciativa.
“Contrastes – O Musical” é uma história actual. Fala de problemas sociais e aborda as vivências de dois grupos de jovens.
Faltam apoios financeiros para subir ao palco. Vamos ver o que acontece nos próximos meses.

É mesmo o “La Féria do Oriental”?

(risos) Não, não sou. O Oriental de São Martinho tem felizmente, muitos talentos. É um clube com 54 anos e uma história enorme, que se confunde com a história da própria cidade da Covilhã.
O que sou devo-o a esta casa e às pessoas que se cruzaram no meu caminho.

Ouvimos dizer que nas actividades que coordena, costuma ter mau feitio. É verdade?

(risos) Não! Sou a pessoa mais pacífica do mundo, mas sou exigente no que faço. Se exijo imenso de mim próprio, acho que posso fazer o mesmo com os outros. Agora, quando as coisas não correm como eu quero, costumo amuar. Não admito fracassos e contrariedades. Vivo em permanente ansiedade.

O que acha da ideia de vir a ser Presidente da Direcção do Oriental de São Martinho?

Não é para se concretizar a curto prazo. Ainda tenho imenso que aprender e viver. Costumo dizer, que aos 40 anos vou abraçar esse caminho.
Ser Presidente do Oriental é uma grande honra, mas também uma grande responsabilidade. Carregar um peso histórico, como o do Oriental, é de facto uma tarefa difícil e extremamente exigente.

O Associativismo também cria inimizades?

É natural que haja divergências. Até é bom que assim seja. Todos os pontos de vista são úteis. As inimizades, caso existam, devem permanecer na esfera pessoal e nunca no domínio do próprio Clube.
Todos são importantes e imprescindíveis. Uma Colectividade, como o Oriental de São Martinho, não pode dar-se ao luxo de abdicar de quem quer que seja.

Muito Obrigado pelo tempo que nos disponibilizou. Desejamos as maiores felicidades para esta grande Colectividade, e também para o Francisco.

Em nome do Oriental de São Martinho, agradeço a vossa atenção. Muito Obrigado!